SANDÁLIAS HAVAIANAS MODELO SLIM. DO
PRODUTO COTIDIANO AO UNIVERSO FASHION: UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE SEMIÓTICA
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A palestra tratou do case Havaianas no evento
Fashion Marketing (2006). Dois funcionários da empresa SÃO PAULO ALPARGATAS
S.A., o diretor de comunicação Rui Porto e a consultora de comércio exterior
Ângela Hirata, apresentaram o percurso de sucesso das sandálias de borracha que,
primeiramente, a partir de 1962, eram destinadas aos consumidores brasileiros
de baixa renda e, posteriormente, tornou-se um produto requerido e vendido como
artigo de moda em pelo menos sessenta países do mundo.
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Primeiras havaianas |
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De acordo com Kalil (2006), na época, o diretor
de comunicação afirmou que o desafio ao produto é “mudar sem mudar”, porque esse
não poderia perder sua “essência”, caracterizada como sandálias de borracha e
sandálias de dedo. “Tem que bater o olho e ver que é uma Havaiana” (PORTO apud
KALIL, 2006).
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Além de sua função prática, que é proteger os
pés no uso diário, o produto sandálias, que, durante muito tempo, foi signo de
informalidade e despojamento, é agora apresentado como signo de moda, inclusive
sendo indicado para ocasiões que requerem, tradicionalmente, o uso de produtos
de maior formalidade. Essa ruptura proposta na tradição é justificada pelo
caráter fashion do produto de marca. Pois, de maneira geral, fashion é o que
está na moda. Mas, de modo específico, fashion é aquilo que expressa inovação e
vira tendência, movimentando os costumes e ditando a moda, porque tem o poder
de influenciar o público. Essa influência é disseminada, primeiramente, junto
aos setores especializados, que são “formadores de opinião”.
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As mensagens dos anúncios televisivos confirmam
a intenção dos anunciantes da marca de ampliar o uso do produto sandálias,
ocupando um espaço que, primeiramente, era dominado por sapatos sociais e,
posteriormente, foi também ocupado por calçados esportivos, popularmente
conhecidos como tênis. Porém a atual campanha da marca Havaianas busca dividir
ainda mais o espaço da moda social, ocupando-o também com suas sandálias.
Características do produto que
identificam a marca
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O produto sandálias Havaianas foi criado em
1962, sob inspiração de um modelo de sandálias japonesas denominado Zori,
confeccionado com tiras de tecido e solado de palha de arroz. Por isso, em
todos os modelos, a parte superior do solado das sandálias Havaianas apresenta
uma textura que imita a aparência dos grãos de arroz. Esse é o registro da
inspiração de origem, como parte característica das sandálias Havaianas que,
desde o início, foram produzidas em borracha. Por outro lado, o nome que marca
o produto é relacionado ao Havaí, local geográfico divulgado, na época, como um
paraíso de sol e mar, frequentado por pessoas norte-americanas, ricas e
famosas, que passavam suas férias naquele lugar.
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Na década de 1990, a marca propõe uma grande
mudança no seu posicionamento, passando a considerar positivamente a utilização
do produto por pessoas de todas as classes sociais. “Havaianas: todo mundo usa”
foi o slogan adotado na ocasião, como parte de uma campanha com a participação
de artistas conhecidos da televisão brasileira. A relação com celebridades, que
assumiam e referendavam o uso do produto, definiu o reposicionamento da marca.
Elementos da teoria semiótica
peirceana
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A palavra semiótica advém do termo grego
semeion, que significa signo. Por isso, o nome Semiótica é atribuído à Teoria
Geral dos Signos, como campo de estudos lógicos que pretende estudar e
categorizar os signos. No Brasil, há diversos autores que estudam ou aplicam os
conceitos de semiótica, entretanto, Lucia Santaella é pesquisadora mais
conhecida na área. Neste texto, considera-se, especialmente, o livro Semiótica
aplicada (SANTAELLA, 2006), porque relaciona as áreas de semiótica e design
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Há diferentes relações que determinam a
associação entre o representâmen e o objeto do signo. Isso estabelece as
classificações do signo como: ícone, índice ou símbolo, conforme são
apresentados na segunda tricotomia ou série de três da teoria peirceana. A
primeira tricotomia apresenta três classificações do signo: quali-signo,
sin-signo e legi-signo, de acordo com o tipo de representâmen que é
apresentado. A terceira tricotomia indica outras três classificações do signo:
rema, dicente e argumento, de acordo com o tipo de interpretante que é
produzido (NÖTH, 1996; LUCY, 2007; SANTAELLA, 2006)
As sandálias Havaianas Slim como
signo fashion

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A morfologia das sandálias Havaianas e o
material utilizado na fabricação, de modo geral, sugerem descontração e informalidade
social. Do ponto de vista semiótico, o ícone percebido ou
experimentado promove sensações e sentimentos, os quais são relacionados ao
relaxamento, à liberdade, ao conforto e ao despojamento que, culturalmente, são
associados a conceitos, indicando o produto como símbolo de descontração e
informalidade social.
Considerações finais
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O exagero, a ambiguidade e a informalidade
caracterizam a moda atual, que se expressa em produtos percebidos como fashion.
O sentido fashionista dos produtos é determinado por sentimentos específicos,
que são despertados no observador-consumidor. Todavia há a identificação dos
aspectos e elementos que caracterizam e passam a simbolizar os produtos fashion
do momento. Entre esses aspectos, aparece a contradição, o paradoxo ou a
ambiguidade percebida nas sandálias Havaianas Slim.
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Além de poder comercializar seus produtos com
preços mais elevados, há indícios de que a estratégia adotada pela empresa
ALPARGATAS S.A., ao configurar o posicionamento das sandálias Havaianas Slim,
também busca ampliar o seu mercado de atuação e consumo. Para tanto, o modelo
em estudo evidencia o investimento na diversificação de modelos da marca,
compondo uma cultura da variedade de expressões ou estilos sobre um mesmo tema
básico. Isso amplia e diversifica os ambientes de consumo dos produtos
Havaianas. Como foi proposto, o valor simbólico do objeto de moda propicia a
venda por um preço superior ao que poderia ser cobrado exclusivamente por seu
valor de uso. As sandálias Havaianas Slim são afetivamente percebidas como
detentoras de valores expressivos emocionalmente associados aos sentimentos
fashionistas. Os sentimentos decorrem das sensações decorrentes da percepção do
produto. Todavia, para que haja essa sensibilização, é necessário que o
observador-consumidor seja esteticamente educado para se sensibilizar com os
apelos estéticos do produto.
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A mídia em geral foi expandida e diversificada
com o advento e a consolidação da internet e de suas redes sociais. No ambiente
midiático, as informações se multiplicam em blogs referentes à moda, de maneira
oficial ou casual, e os modelos se cristalizam na recorrência sobre os mesmos
aspectos, tornam-se critérios da moda, que são entendidos por alguns e
assimilados intuitivamente pela maioria.
UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE SEMIÓTICA
STEPHAN GOMES
P. PUBLICIATARIA 2015.1
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