segunda-feira, 4 de maio de 2015

Das montanhas mexicanas ao ciberespaço



Pedro Henrique Falco Ortiz autor do artigo, cujo nome é o mesmo desta postagem, mostra o lado positivo que o EZLN teve com a sociedade mexicana e as dificuldades que enfrentaram para conseguir seus direitos.
No dia primeiro de Janeiro de 1994, enquanto os mexicanos comemoravam o acordo comercial feito pelos Estados Unidos, Canadá e México conhecido como TLC (Tratado de Livre Comercio), milhares de mestiços e índios tzotzil, tzeltal, tojolabal, chol, mame e zoque, herdeiros da cultura maia, saíram das montanhas e começaram a ocupar várias localidades do pobre Estado de Chiapas. Eles se auto-intitulavam o Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN, e surpreenderam não só o governo mexicano como também o mundo por suas ações relâmpagos.
Logo o mundo ficou sabendo de sua existência. Como a chegada do EZLN foi logo num dia de comemoração para os cidadãos mexicanos, no dia seguinte devido a ressaca, não conseguiram pensar em uma maneira mais adequada para responder aos rebeldes, começara uma guerra, que estavam baixando o numero de rebeldes, tanto por mortes quanto por desistência. Diversas cidades do país clamavam um cessar-fogo e uma abertura de negociações entre as partes. EZLN pedia seu reconhecido com o status de força beligerante e que suas reivindicações básicas por terra, trabalho, pão, teto, liberdade, dignidade e justiça fossem atendidas, ou pelo menos consideradas. Após uma semana os governantes aceitaram abrir as negociações e escolheram o Bispo de San Cristóbal de las Casas, D. Samuel Ruiz García. A Conai – Comissão Nacional de Intermediação, presidida por Ruiz e integrada por intelectuais, artistas e dirigentes sociais, impulsionou primeiras negociações entre os rebeldes zapatistas e o governo federal, a partir de fevereiro de 1994, e manteve-se como a principal instância negociadora do processo de paz até sua dissolução, em 1997.
As negociações com a EZLN duraram algum tempo, e nesse meio tempo, as mídias locais e estrangeiras começaram a fazer reportagens sobre o caso, e indo até perto de áreas de controle dos Zapatistas para ver o que conseguiam para suas reportagens. Logo surgiram diversas notas não autorizadas de que nenhum acordo de paz teria sido firmado. Mas pouco tempo depois o governo mexicano desmentiu, dizendo que haviam sido firmados diversos acordos. Com isso as mídias reapareceram, e enquanto o governo comemorava a eficácia das negociações, o EZLN ficava cada vez mais famoso como o novo ícone da revolta popular em tempos pós-modernos, com a ajuda da televisão e jornais emergentes da época.
Os zapatistas são, ao mesmo tempo, um grupo armado com amplas bases sociais e um movimento popular que contesta as concepções tradicionais da política. Um movimento armado que não pretende a tomada do poder, mas sim um diálogo permanente com a sociedade civil, que possibilite um movimento maior pelas transformações sociais.
Pode ser que o EZLN desapareça como grupo armado, por decisão sua ou por uma opção militar radical do governo federal e suas forças armadas. Pode ser que cresça ainda mais como força política articulada com outros movimentos sociais. Há muitos horizontes possíveis.
As iniciativas políticas do zapatismo, sempre estabelecem uma ponte de diálogo com chamada sociedade civil, tanto mexicana quanto planetária. Houve a criação da Frente Zapista (FZLN) e a criação do Congresso Nacional Indígena (CNI).Desde então lutam pela aprovação de leis como a Lei de Direitos e Cultura Indígenas que já haviam sido negociada com os representantes do governo, mas foi modificada e mutilada pelo Congresso Nacional mexicano , em resposta a isso os zapatistas convocaram a sociedade civil e fizeram em 2001 a gigantesca Marcha Indígena, que durou mais de mil quilômetros, que terminou na Cidade do México,  onde ficaram e reivindicaram seus direitos.

Durante mais de doze anos, o EZLN deixou marcas profundas e positivas para a sociedade mexicana e contribuiu para a rearticulação dos movimentos socais, para o crescimento da oposição ao sistema de partido-estado e para que o México mestiço se reconhecesse no México indígena, historicamente marginalizado. O zapatismo mostrou que ainda é possível lutar contra a exclusão e a favor do reconhecimento dos povos e por direitos iguais para todos. 

Marcos Barbosa
Produção Publicitária
Faculdade Cisne

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